O GRITO
Deixa-me aqui, por Deus, esquece-me
neste antro, neste canto do tempo onde
me acostumei a estar por anos e sequer
me viste, andar, adormecer ou acordar!
Por que só agora?
Onde estavas quando a chuva me molhou?
Quando arrancou-me o estômago, a fome
indigna, do pão, do amor e da solidariedade,
que tanto gritas aos quatro ventos possuir?
A embriagues descansa-me a alma e o corpo,
o cheiro dos carros que por aqui passam,
ao meu olfato, são o olor do Deus abandonado
em minha vida, meus sonhos e minha morte!
A comida à mesa ficou no ontem da família
que a mim menosprezou por conta da doença
em meu corpo prosperando dia por dia!
Sobre esta grama sonho flores azuis e durmo
rosas quando nos braços de Deus em melodia,
chegar este pobre e abjeto ser que a ti fala
sendo um mendigo, filho do mesmo Pai!
Eugênia L.Gaio-11/10/2015