CARTAS QUEIMADAS
No fundo da gaveta, lá estão
Lembranças rabiscadas
como finas nervuras
das asas de uma borboleta...
Revirando o passado
que, parece, há séculos existiu
Uma( não insossa) gota molhou meu olhar
quando minha alma passou a recordar...
Invenção de uma alma sonhadora,
coração de menina, tolo,
pensou ser amor e enganado
escreveu aquelas linhas...
Acreditou ser real o sentimento...
Confusão de criança alimentando a esperança
de amor... eterno,
bebendo raios de sol no amanhecer...
Dormiu em sonhos que acordaram
em manhãs delatoras da farsa, do engano,
tudo que ficou debaixo do pano
uma vida...a eternidade que há muito morreu.
Passo os olhos, quase sem ler,
nos pontos e vírgulas desenhados...
Poesias em forma de recados
hoje embaralhados,
sem sentido, sem vida...
São rimas que se desentenderam,
se perderam no caminho...
Não se falam, o mesmo verbo não conjugam...
O tempo desbotou as cores
das linhas deitadas em tons azuis,
e o papel que lhes serviu de abrigo
hoje arderá em chamas
e da pretensão de amor
nada restará,
nem mesmo cinzas
do que foi amor sem, de verdade, ter sido...