O Terceiro Anjo
Ela dorme outra vez em minha cama: silêncio puro!
Sua ausência e eu, dormimos juntos,
na covarde miragem que faço até seu corpo.
Olho-o, absorto, sob meu lençol. Ela está nua, linda como o outono,
mas entre nós já é verão, um triste “alegre verão” ensolarado.
Não há mar ou céu, sorriso ou lágrimas. Tudo se acabou.
Desce o primeiro anjo e nos convida ao recomeço.
No céu, disse ele, o amor não se paga, não tem preço,
apenas se troca sem desinteresses.
A estrada vem com o outro anjo que não vem do céu
e que me diz, covardemente, acabou, vai embora.
Faço este poema para que ele me ame docemente
e reinvente em minha alma um amor novo e cheio de amizade.
Ele olha para minhas mãos, sorrir e me solta salvas de beijos,
nem olha para meu corpo quase morto de ilusão. Se declama!
Deixo-a quase nua na cama e vou.
A maior dor lhe deixo antes de partir.
Penso por ela e digo: se ficares triste, lembra-te de mim
que estarei sempre por perto como um terceiro anjo,
a árvore frondosa que não desabou,
e cheia de uma nova safra, partiu, para ficar pra sempre
em outro amor inocente, mas sem sentir qualquer dor...