Memórias Perversas
Todas as minhas memórias de amor são perversas
Enquanto os romances floridos que li outrora
Fazem do amor proibido um belo drama com final feliz
Na realidade, tudo o que tenho é essa ânsia egoísta de mantê-lo por perto
Esse desejo absurdo de cravar minhas unhas em sua pele e torná-lo meu
De beijar seus lábios tão profundamente até consumir sua alma
Todas as minhas memórias de amor são perversas
Porque destrói a alma esse sentimento
De querer tão ardentemente
Algo que não se pode ter
Porque esmaga um coração outrora inocente
Viver nessa sina de momentos roubados e sentimentos mendigados
E afoga qualquer gota de consciência
Essa necessidade absurda de transformar em ódio esse amor deslocado
Simplesmente porque não consigo sufocá-lo
Todas as minhas memórias de amor são perversas
Em minha louca jornada
Jamais conheci a sutileza de um beijo na testa
De dormir abraçado até o nascer do sol
De uma palavra sincera de carinho sussurrada no ouvido
Em minha louca jornada
Tive apenas breves encontros ardentes
E dolorosas despedidas afiadas
Que desmembraram até a raiz
A pobre violeta que foi idiota o bastante para se apaixonar por um cactus
Todas as minhas memórias de amor são perversas
Não há uma das belezas do romance que não distorci
Uso adagas afiadas de sarcasmo
Para esconder o quanto essa desilusão me dilacera
Uso a lógica de um robô insensível
Para fingir que não tenho um coração a ser partido
Para fingir que já não foi partido há eras
E enquanto todos veem no amor a salvação
O consolo para os dias frios e solitários
A ilusão que se tornará real com esforço suficiente
O sabor mais doce que dá sentido à existência
Eu me sento num canto com os olhos escurecidos
Cruzando os braços ossudos que jamais serão afagados
Observando de longe tudo o que nunca terei
Porque todas as minhas memórias de amor são perversas