À QUE SE VAI POR NUNCA TER ESTADO

Grita-me o silêncio de assalto,

Na sordidez da fome de ti.

Busco estrelas tolas que,

Se me veem, não me vêm

Pela idiotia do prazer de brilharem

Na distância sideral,

No denso-vago leito estelar

Em que se dependuram.

Insuficiente, vísceras doentes,

Emudeço ante meu grito mouco.

PEREÇO!

Para este amar-te, calo-me

E me deixo acontecer nas noites

De agonia e eterna contemplação.

Faço das horas a (al)cova

Onde os sonhos se entorpecem

E se embebedam de antigos discursos.

Em tal curso prossigo ébrio,

Debulhando a dor da derrota.

Coração mal parido, expatriado de ti,

Lançado fora, como se me foram

Lançadas as lágrimas que salgam.

Sacrílego, destruo a nave abobadada

De meu templo erguido por ti,

Para, bobamente, entregar-me

Às arestas pontiagudas

De uma saudade delirante,

Destilada no silêncio de tua ausência.

Preceitos, antes santificados, hoje expostos

No gólgota da dor amontoada:

A cruz, a coroa, o vinagre, o escárnio,

Vindo estão do acúmulo

Dos desejos masturbados em surdina

E (in)saciados na solidão dos azulejos

...nas vicissitudes de um amor maldito.

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 31/08/2015
Código do texto: T5365833
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.