À QUE SE VAI POR NUNCA TER ESTADO
Grita-me o silêncio de assalto,
Na sordidez da fome de ti.
Busco estrelas tolas que,
Se me veem, não me vêm
Pela idiotia do prazer de brilharem
Na distância sideral,
No denso-vago leito estelar
Em que se dependuram.
Insuficiente, vísceras doentes,
Emudeço ante meu grito mouco.
PEREÇO!
Para este amar-te, calo-me
E me deixo acontecer nas noites
De agonia e eterna contemplação.
Faço das horas a (al)cova
Onde os sonhos se entorpecem
E se embebedam de antigos discursos.
Em tal curso prossigo ébrio,
Debulhando a dor da derrota.
Coração mal parido, expatriado de ti,
Lançado fora, como se me foram
Lançadas as lágrimas que salgam.
Sacrílego, destruo a nave abobadada
De meu templo erguido por ti,
Para, bobamente, entregar-me
Às arestas pontiagudas
De uma saudade delirante,
Destilada no silêncio de tua ausência.
Preceitos, antes santificados, hoje expostos
No gólgota da dor amontoada:
A cruz, a coroa, o vinagre, o escárnio,
Vindo estão do acúmulo
Dos desejos masturbados em surdina
E (in)saciados na solidão dos azulejos
...nas vicissitudes de um amor maldito.