O SUPLÍCIO DE TANTALO
Antes eu era rei
Hoje sou condenado
Por minha ofensa aos deuses
Fui atirado nesse “vale encantado”
Aqui só existem florestas verdejantes
Frutas das mais abundantes
Águas puras e cristalinas
E as flores mais lindas
No início achei que havia sido perdoado
Mas o tempo tratou de mostrar
Porque devo usar aspas ao falar “vale encantado”
Fui saciar minha sede
E vi a imagem de minha rainha
Projetar-se nesse espelho d’água
Sua sensualidade natural me fascina me enlouquece
Posta de lado em nossa cama
Vestida de púrpura se encontra
Com as pernas expostas
E um provocante decote deixa seus seios à mostra
Quero tocá-la
Mas as águas se afastam
Distanciando e embasando
A outrora nítida imagem de minha amada
Os deuses brincam comigo de uma forma muito cruel
Sabem que a falta dela me consome
Uma brisa suave sacode os galhos de romã
E a cor avermelhada desses frutos
Projeta em mim a imagem de seus lábios
Lábios pequenos vivos quentes como o fogo
A brisa também toca as ameixas
Ameixas pretas
Semelhantes à profunda e enigmática expressão do teu olhar
Corro para te beijar
Mas a brisa suave é substituída por um vento forte
Empurrando os galhos para fora do meu alcance
Meus olhos doem mesmo sem chorar
Meu coração se aperta continuamente sem cessar
Sei que ameixas romãs espelho d’água não existem!
Que tudo não passa de ilusão!
Mas a repetição cotidiana do que se foi
Torna insuportável essa punição
Malditos sejam os deuses!
Capazes de brincar com nossos maiores desejos.