O SUPLÍCIO DE TANTALO

Antes eu era rei

Hoje sou condenado

Por minha ofensa aos deuses

Fui atirado nesse “vale encantado”

Aqui só existem florestas verdejantes

Frutas das mais abundantes

Águas puras e cristalinas

E as flores mais lindas

No início achei que havia sido perdoado

Mas o tempo tratou de mostrar

Porque devo usar aspas ao falar “vale encantado”

Fui saciar minha sede

E vi a imagem de minha rainha

Projetar-se nesse espelho d’água

Sua sensualidade natural me fascina me enlouquece

Posta de lado em nossa cama

Vestida de púrpura se encontra

Com as pernas expostas

E um provocante decote deixa seus seios à mostra

Quero tocá-la

Mas as águas se afastam

Distanciando e embasando

A outrora nítida imagem de minha amada

Os deuses brincam comigo de uma forma muito cruel

Sabem que a falta dela me consome

Uma brisa suave sacode os galhos de romã

E a cor avermelhada desses frutos

Projeta em mim a imagem de seus lábios

Lábios pequenos vivos quentes como o fogo

A brisa também toca as ameixas

Ameixas pretas

Semelhantes à profunda e enigmática expressão do teu olhar

Corro para te beijar

Mas a brisa suave é substituída por um vento forte

Empurrando os galhos para fora do meu alcance

Meus olhos doem mesmo sem chorar

Meu coração se aperta continuamente sem cessar

Sei que ameixas romãs espelho d’água não existem!

Que tudo não passa de ilusão!

Mas a repetição cotidiana do que se foi

Torna insuportável essa punição

Malditos sejam os deuses!

Capazes de brincar com nossos maiores desejos.

Douglas Almeida
Enviado por Douglas Almeida em 28/01/2015
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