Eu tenho a impressão de que sou meia pequena que encolhe quando você põe seus sapatos
eu sou como a meia velha sem elástico que fica escorregando em sua canela fina
você me puxa
e eu desço
me puxa
eu desço
puxa
e eu caio para baixo dos seus pés
você me tira
esgalçado em sua mão estou
enxarcado do suor que teus poros me puseram
quente do teu corpo que antes me preenchia
permaneço ali, sendo observado ao te observar
em teu poder
ouvindo você respirar bem próximo
e sentir o cheiro do suor que teu corpo me causou
ali, gasto, fraco, um tanto quanto encardido, morto de medo de perder meu par
num instante sou jogada contra a parede
— que me parece amiga a esta altura —
permito por você sentir-me esquecida
e amontoada no chão frio, durmo
de repente
acordo em tuas mãos
em direção à água
e lá você me deixa
no fundo do balde, molhada, fria, boiando
de molho
você me tem nas mãos
me esfrega, me prende em varais encardidos, me faz trouxa, e eu permaneço solto, balançando ao teu vento
logo você me reusa e caminha sob mim