Eu tenho a impressão de que sou meia pequena que encolhe quando você põe seus sapatos

eu sou como a meia velha sem elástico que fica escorregando em sua canela fina

você me puxa

e eu desço

me puxa

eu desço

puxa

e eu caio para baixo dos seus pés

você me tira

esgalçado em sua mão estou

enxarcado do suor que teus poros me puseram

quente do teu corpo que antes me preenchia

permaneço ali, sendo observado ao te observar

em teu poder

ouvindo você respirar bem próximo

e sentir o cheiro do suor que teu corpo me causou

ali, gasto, fraco, um tanto quanto encardido, morto de medo de perder meu par

num instante sou jogada contra a parede

— que me parece amiga a esta altura —

permito por você sentir-me esquecida

e amontoada no chão frio, durmo

de repente

acordo em tuas mãos

em direção à água

e lá você me deixa

no fundo do balde, molhada, fria, boiando

de molho

você me tem nas mãos

me esfrega, me prende em varais encardidos, me faz trouxa, e eu permaneço solto, balançando ao teu vento

logo você me reusa e caminha sob mim

Lucas Madí
Enviado por Lucas Madí em 14/12/2014
Reeditado em 14/12/2014
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