FRÊMITO
Estou entre a névoa e o vento...
Eu já nem sei se o sol existe...
Mas vagueio pelo pensamento...
Pela memória de algum momento...
A canção do inverno é uma sonata triste
Ah! Meu amor porque partiste?
Eu ando tão só!... Tudo é lamento...
Não é fácil olhar as nuvens brancas...
Nem contar as estrelas... Tudo me permeia...
Até os debruçar dos sonhos pelas ancas...
E tu vens nesses sonhos e me arrancas
qualquer dignidade... Me incendeia
com essa lembrança que em mim vagueia
Ah! Em teu coração me trancas...
E assim sem porta e janela
a minha terapia é sonhar-te
pelos cantos duma fria aquarela...
Um frêmito profundo me cinzela;
“frêmito do meu corpo a procurar-te”.
Ah! Tu existe em toda parte,
que atormenta-me esse olhar que vela...
( Grifo: de Florbela Espanca)
( Imagem: facebook ayres Lourenço)A