O instante do tapa
O instante de um tapa..
No peso da mão que maltrata
O braço que verga feroz a espada
E desfere no rosto a incisiva navalha
O instante do tapa..
A mão que fere por que não afaga
O sangue que ferve, a cólera que abrasa
O beijo que morde, a mesma boca que escarra
O instante de um tapa..
A fúria nos olhos, a dilacerante mirada
O pavio que explode quando no rosto estala
O ódio que vence o amor que se cala..
O instante de um tapa..
A vergonha que se instala
A lágrima que não seca
A mágoa que não vaza
A face enrubescida
A covardia enaltecida
Na mão vingada que ainda vigia
A outra face ainda intacta..
Nunca esquecerei o instante de um tapa..
Por mais que as palavras calem,
Por mais que a memória falha
Há cicatrizes que o tempo esconde..
Mas no avesso da pele
A lembrança ainda consome
A alma toda posta em chagas..
Alex Quirino