DESAMOR

Olho o céu de minha pantomima

Paisagem por onde deslizam carregadas nuvens que passam

Meus olhos viajam em retrô pegando carona na caravana da rima

Assim como engravido nas águas salinas de minhas mágoas

Parem e se transformam em filtradas águas cristalinas

Que se absorveram de minhas puras lágrimas de capela Cistina...

Saudade vertida é filho que chora quando nasce

Lembranças são córregos que não tem pouso

Sou maresia que marulha em choro

Sem tua presença tudo se fragmenta

Tudo é coisa fraudulenta

É como chupar menta

Lente que na tresloucada mente tudo aumenta

Tudo que tem raiz parece que voa

Sou navio sem proa

Milho sem broa

Prece que carece de pedido e se esboroa

Você se foi silenciosa e tendenciosa assim

Como a seiva que abandona o perfumado jasmim

O mar esperançoso ainda deixa sua umidade física na areia

Ainda que eu morra na maresia antes de partir

Cortando a cauda da sereia a te dividir

Ainda me resta o soro salino da esperança a pulsar nas minhas veias

Você roubou o elixir da longa vida do meu existir

Só sei dar meu coração como um aperto de mão

Mais dar adeus com as mãos abertas

É como um sonho ofertado pelo demônio

Murchas ficam as primaveris flores da minha estação

Estou morto como um cravo despedaçado sem rosa dentro de ti

Ir para onde se o mundo de mim se esconde

Como zebra sem riscado

Se longe estás sou relógio quebrado

Sou lágrima com chuva de papel picado

Sem teu hálito não sei quem sou

Sou quem não sei, como manhã sem o astro rei...

Não faz sentido ter-me de ti recém-saído

Como um filho temporão visivelmente tão sofrido

O cordão umbilical foi quebrado como taça na cristaleira

E agora sigo como joio sem a verdade do trigo

Uva sem videira roupa suja sem lavadeira

Sou sombra entre os escombros

Braços sem o apoio dos ombros

Fizestes de mim pouco caso

Um sol morno invernoso sem ocaso

Mas deixa estar, sigo consignado em desatino

E viro a página do sábio alfarrábio do destino

Pois que não há noite em perpetua escuridão

Um dia minha estrela matutina vai brilhar

E quem sabe outra mulher eu mereça amar

Com a força magnética da lua cheia que no céu dança e flutua

Possa ser que noutra mulher da vida eu te possua...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 03/07/2014
Reeditado em 04/07/2014
Código do texto: T4868988
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