Amante Esquecida
Meu amor, minha amiga,
Silencioso na tua dor,
Espero que a tua alma diga,
Meu confessor, meu senhor.
Não me obrigues mais a falar,
O silêncio diz-me mais que tudo,
Deixa-me observar-te só a arfar,
E transcrever-te num poema-mudo.
Abandonaste-me à sorte sem te perceber,
Não ouviste sequer os meus versos,
Desapareceste na neblina ao amanhecer,
Deixaste-me aos meus sentimentos perversos.
Elas passam por mim tão perto,
Inatingíveis na sua promiscuidade,
Esticam-me a mão para um aperto,
Mas estou tão longe, já fora da cidade.
Tão ignóbeis,
Tão imbecis,
Tão hábeis,
Tão pueris.
Lx, 23-6-1995