Jardins em branco e preto

Jardins em branco e preto

Não sei se vou ou se fico

A única certeza que tenho

É uma definição

Como hei de fazê-la? Não sei

Pois hoje, sou metade querendo edificar

Metade futurista demais para tu

Pensas muito em tua vida social

Danem-se todas as tuas finas flores

Sou do povo, a da sucata, dos amores

Amor é mendicância, subserviência

Amar é verbo transitivo

Sou complemento solto, tentando aglutinar

E quando sou mansa, sou boa

Quando peco, até o Diabo chamas

Quem sois tu pra me pedir pra calar?

Tenho carne, peno na carne, humana

E tenho hormônios sim, volátil

Mudo de opinião várias vezes, volúvel

Saturei, abrandei, relevei, hoje é insolúvel

Falas da minha violência, é gozado comentar

Quando arfávamos ritmicamente

Pedia-te clemência, várias vezes

E como quem não ouvia, gemia

Puxava meu cabelo, sub-repticiamente

Não hei de negar agora minha

Acomodada vida etérea

Como tudo o que é sólido,

Desfizesse-me no ar

Nesse teu ar zombeteiro,

Esse olhar de esgueiro

Esse soslaio frontar que transpareces

Ao me fitar

Rechaças em dona de casa, pereço

Analogamente me comparo

Sou das panelas as tampas em pleno encaixe

Não me toques no seio,

Não ouses passar da linha o meio

Tenho limites, serei tampas a voar

É bom sair de perto quando a gota transbordar

Não terão meias conversas, acordos

Seremos eu, tu, e o que sobrou de nós

O que foi bom, guardo comigo, metade chorosa

O que ruim foi mais pesado, brutal, fardo

Parte danosa, quiçá nostálgica

Do que um dia foi cama de rosas

Vou elogiar-te os lábios rutilam

Um beijo é mera comodidade, ranjo os dentes

Os ouvidos não suportam mais inverdades

Metade minha é físico, outra é tentar ofuscar

Metade é desespero, outra ideologia, soa até fugaz

A pena é a balança, pouco peso, mudança

Parte em mim é saudade, o resto nuvem de esperanças

Gabriel Amorim 27/05/2014