O avesso de mim
Vejo uma escuridão confusa
Ela quer se apresentar
É tentadoramente sedutora.
Muito atraente.
E também sabe que
Não tenho muitas escolhas.
Não consigo rejeitá-la.
Ela me pega pelos meus braços
E eu aceito o passeio insalubre.
Pássaros negros gritam em meus ouvidos
Mas, eu já nem me assusto mais
Só há a dor e a angústia
De tanto as ter já nem as sinto mais.
Lágrimas correm em mim sem fim
Não tenho mais fé
Não tenho mais esperança
Não sei mais o que é ser legal
Com mais ninguém.
Talvez nem comigo mesma.
A rudeza invade todos os buracos
O orgulho me consume as entranhas
Tornam-se companhias indispensáveis.
Ninguém é bom o bastante pra mim.
Para saber me arrancar sorrisos
Todos eles morrem no canto da boca.
Somente a solidão me aceita
E eu a desejo ardentemente.
Entro numa languidez lenta
Equável ao meu imprestável coração.
Meus pensamentos são torturantes
Só vem morte, preto, sangue...
E tudo fica tão vazio, tal qual o nada.
Uma inundação empretecida de ódio
Quanto ao meu interior.
Depois que vitalidade resolveu partir.
Torço minha alma
Jogo-a pela porta
E a tranco num quarto escuro.
E já não tenho mais alma
Volto a ser um animal
Depois serei um vegetal
E enfim, um mineral.
Sem qualquer sinal vital
Num retrocesso enfurecido
É isso que sobra do meu avesso.