ABRIL SAUDADE
“Aos vendilhões de Abril”
“Foi você que pediu Abril?
Não sei bem mesmo porquê
Nem me lembro o que isso é.
Mas s´ é assunto tão febril,
Isso é lá com ele e você!”
Nós é que pedimos Abril
Pois já dele temos saudade
E de um país de qualidade.
Quem o não sente é senil
E não tem sensibilidade…
Vós, porém, sois vendilhões
E gozais de privilégios,
Como se fosseis egrégios,
E nós, cheios de ilusões,
Perdemos os sortilégios.
Vendestes nossos direitos
Rasgastes nossas conquistas
E, à laia de fogo de vistas,
Engalanais vossos preitos
Com discursos elitistas.
Vendestes aos vis credores
A justiça e a educação,
E até a Constituição,
Ficando nós devedores
De uma Crise sem razão.
Vendestes a saúde e as leis
As escolas e hospitais
Para amealhar capitais
E nós, cidadãos fiéis,
Com uns trocos virtuais.
Vendestes os operários
Os projectos e as pensões
Toda a alma e corações
E nós, com ideais primários,
Empenharemos gerações.
Vendestes nossas baladas
E nossos cantares de outrora
E vindes felizes agora,
Em escuras alvoradas,
Colocar o Abril lá fora.
Vós, vendilhões afamados,
Nessa Casa da Oratória
Respirais virtude notória
Em cadeirais instalados
Na esplanada da história.
Temos, sim, muita saudade
E queremos recuperar
O que o sonho reclamar
Nas asas da liberdade
De um Abril que há-de voltar!
Frassino Machado
In RODA-VIVA