SER OU NÃO SER MÁSCARA
“Às máscaras de Abril”
No cortejo das avenidas
Em cada rosto a sua dor
Passa Abril às escondidas
E ninguém lhe dá valor.
Palavras e mais palavras
Desnudam-se as duras vidas
Da multidão são escravas
No cortejo das avenidas.
Justiça, saúde e pão,
As faixas suam fervor,
Desemprego, educação,
Em cada rosto a sua dor.
Há canções de impropério
Em tons de cores garridas
Ao ritmo do despautério
Passa Abril às escondidas.
Com rosto desfeiteado
E num corpo sofredor
Anda o sonho acorrentado
E ninguém lhe dá valor.
Já reclama o país todo
No barulho da fanfarra
O poder cumpre a seu modo
Pouca uva e muita parra.
Corre sangue, correm lágrimas,
Como narra a velha crónica,
Com um olhar a deitar chamas
Já lá vem a fiel Verónica.
Àquela turba, espantada
Do rosto de Abril chagado,
Mostra a máscara estampada
Em seu véu esbranquiçado.
Ó alma da juventude
Que buscas sustentação
Como exemplo de virtude
Aproveita esta lição.
Vós, maiorais e coronéis,
Que em Abril ferrais o olho,
Ide pondo, e não tardeis
As vossas máscaras de molho!
Frassino Machado
In MUSA VIAJANTE