SER OU NÃO SER MÁSCARA

“Às máscaras de Abril”

No cortejo das avenidas

Em cada rosto a sua dor

Passa Abril às escondidas

E ninguém lhe dá valor.

Palavras e mais palavras

Desnudam-se as duras vidas

Da multidão são escravas

No cortejo das avenidas.

Justiça, saúde e pão,

As faixas suam fervor,

Desemprego, educação,

Em cada rosto a sua dor.

Há canções de impropério

Em tons de cores garridas

Ao ritmo do despautério

Passa Abril às escondidas.

Com rosto desfeiteado

E num corpo sofredor

Anda o sonho acorrentado

E ninguém lhe dá valor.

Já reclama o país todo

No barulho da fanfarra

O poder cumpre a seu modo

Pouca uva e muita parra.

Corre sangue, correm lágrimas,

Como narra a velha crónica,

Com um olhar a deitar chamas

Já lá vem a fiel Verónica.

Àquela turba, espantada

Do rosto de Abril chagado,

Mostra a máscara estampada

Em seu véu esbranquiçado.

Ó alma da juventude

Que buscas sustentação

Como exemplo de virtude

Aproveita esta lição.

Vós, maiorais e coronéis,

Que em Abril ferrais o olho,

Ide pondo, e não tardeis

As vossas máscaras de molho!

Frassino Machado

In MUSA VIAJANTE

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 15/04/2014
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