“CARNE VALE” *

“CARNE VALE” *

Carmo Vasconcelos

Me enlaçaste, demónio mascarado,

Na rubra pantomina, exuberante,

E eu de anjinha, no traje alvo, enluarado,

Segui-te numa dança fascinante.

Inventámos um louco carnaval,

Em data desfasada, ambos sem tento,

Que, tal cometa em viagem orbital,

Teve a breve medida de um momento.

Em fogueira de penas nos deitámos,

Traje posto, ajustada a mascarilha,

E cegos de porvires nos queimámos

Nesse lume atiçado de armadilha.

Hoje, extinta a paixão de carnaval,

Semelhante a comédia do burlesco,

Dançam as cinzas um negro ritual,

Em memória do rubro amor dantesco!

* “Carne Vale” ou “Adeus à Carne”– origem etimológica da palavra “Carnaval” – Séc.XI

***

Lisboa/Portugal

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Carmo Vasconcelos
Enviado por Carmo Vasconcelos em 12/04/2014
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