“CARNE VALE” *
“CARNE VALE” *
Carmo Vasconcelos
Me enlaçaste, demónio mascarado,
Na rubra pantomina, exuberante,
E eu de anjinha, no traje alvo, enluarado,
Segui-te numa dança fascinante.
Inventámos um louco carnaval,
Em data desfasada, ambos sem tento,
Que, tal cometa em viagem orbital,
Teve a breve medida de um momento.
Em fogueira de penas nos deitámos,
Traje posto, ajustada a mascarilha,
E cegos de porvires nos queimámos
Nesse lume atiçado de armadilha.
Hoje, extinta a paixão de carnaval,
Semelhante a comédia do burlesco,
Dançam as cinzas um negro ritual,
Em memória do rubro amor dantesco!
* “Carne Vale” ou “Adeus à Carne”– origem etimológica da palavra “Carnaval” – Séc.XI
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Lisboa/Portugal
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