Passarinho verde
Tenho visto o passarinho verde,
Figurando bem minha alma gris;
Num misto de prisão e liberdade,
prisão, melhor dizer a verdade,
enquanto o presumem, ave feliz...
gaiola aberta e ele andando fora,
como se a alforria lhe fosse dada;
um oceano etéreo mas, intangível,
que singraria, caso fosse possível,
mas como, com rêmiges amputadas?
Treinam pra que fale alguns fonemas,
“humanos” dados a um deleite petiço;
Ah se tivesse a impaciência humana,
Bradaria nos dando sonora banana,
Mas, é educado demais para isso...
A gaiola, dizem, protege dos gatos,
Só vigilante, pois, sua dona solta;
Não raro o instinto engendra apuro,
O “voo da galinha” sucumbe ao muro,
Dos gatos rir-se-ia, com asas de volta...
De igual modo o destino amputou-me,
pra que aprenda a língua de Homero;
e do meu sangue crie algo bem belo,
se ao tribunal dos versos doridos apelo,
apenas o que posso, não, o que quero...
O Fado é verdugo, pois, acuso e provo,
Que escolhe aleatório quem será réu;
Sei que as dores são parte da aula,
Mas, é cruel a proteção de uma jaula,
A quem só sonhou em planar pelo céu...