EU NÃO ESQUECI
EU NÃO ESQUECI
Que me perdoe o perdão
Mas eu não consegui esquecer.
Quando ferido, guardei a flecha.
Como um troféu.
Deixei aberta a cicatriz,
Não a tratei como devia.
Era uma maneira
De guardar a lembrança,
A força que me conduziria.
Senti a ventania desenfreada
Açoitar minha alma.
Abri meu peito
Para que a dor fosse intensa,
Imensa como o não perdoar.
Fiquei acuado como um animal,
Machucado na pele,
Com a sangria na ferida.
Meus rastros tingiram as flores,
Que sentiram nas pétalas
O veneno que a flecha deixou.
Acabei com sonhos, sorrisos...
Que tatuaram na face de um homem
O jardim que seria ofertado.
O desespero da solidão e do jogo instalado
Transformaram-me numa fera arisca.
Onde o risco do ataque
É eminente ao rosto que ria.
Sei que perdoar é divino,
Mas eu não esqueci o som das palavras,
Que foram frias e pretensiosas.
Chorei, não pela dor que foi instalada,
Mas pela estrada que abri
Em direção do sol
E que agora ficou fechada.
Meus olhos lancetados,
Mostrava o retrato
Que foi dilacerado.
O sorriso fechou
Para que desse passagem
Ao soluço que imperou.
Hoje sou fera
Que curte a ferida,
Porque eu não esqueci.
Di Camargo, 17/12/2013