A poética beleza da traição

A conheci num baile; uma menina

Quieta e até um tantinho acanhada.

E eu, quase tão tímido quanto ela,

De Cupido levei certeira flechada.

Clichê romântico, ela era muito bela:

Típica “virgem pálida e vaporosa”.

A um anjo celeste eu a compararia,

Ou, para apelar, até a uma rosa…

(Talvez alguém com mais talento que eu,

Um romântico daqueles – à moda antiga –,

Gostasse de seu perfil e lhe dedicasse

Alguma melosa e monótona cantiga…

…Mas deixo isso com eles.) A mão lhe pedi:

Ela ma cedeu, e dançamos noite afora.

Senti-me bailando nos Céus com uma fada

Até que foi chegado o tempo de ir embora.

Prometi encontrar-me com ela de novo,

Para consumarmos a nossa união.

Fiz-lhe uns versinhos – admito – um tanto insossos,

E trazia um buquê de flores na mão.

(E quem me visse saltitando pela rua

Podia fazer a comparação já cambeta

Do fidelíssimo e amoroso Romeu

Indo ver, apressado, sua Julieta…)

E num vestido um tantinho apertado,

Eis que, acolá, vejo minha fada bela,

Usando batom e esmalte escarlate:

Um suspiro de amores dei por ela…

Mas percebi que meu “anjinho casto e puro”,

“Ideal por quem meu peito tanto bate”,

Beijava outro homem no meio da rua…

Não era nada mais que uma biscate!

Galaktion Eshmakishvili
Enviado por Galaktion Eshmakishvili em 04/02/2011
Reeditado em 15/03/2023
Código do texto: T2772641
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