Poema para minha irmã esquecida
Uma noite suja, em um imundo bar na cidade deserta;
Teu bêbado olhar de canalha pousou em meu rosto,
Restos de vômito a infectar tua cara, a prenunciar um mar de desgostos.
O odor nauseabundo de fumo barato empesteou nossa cama.
Não houve beijos em nossa trôpega noite primeira – ao invés de esperma notei respingos de lama.
O que deverei esperar de nós dois, se por ébria me tenho e se te sei que não prestas?
Não há juras de amor em teus lábios vincados; tua boca vocifera, contra mim, palavras ferinas.
Não me abraças: ainda guardo, marcada na face, a última bofetada com que me premiaste.
Esta sórdida alegria te arrasta aos desvãos; em meu ventre carrego o embrião que em mim, num descuido, tu deixaste.
Ainda ontem, numa calçada qualquer, já sem forças, quedei-me inútil, desmaiada.
Que vingança mais torpe: esta mulher em frangalhos é tua paga nesta vida que fazemos apagada.
Um pesadelo constante permeia minhas noites insones: teu cigarro esquecido queima nossos lençóis – nossa casa afundando em imensa latrina.
Não há sabedoria possível nesta vida. Só quando nos deixamos revestir da ingenuidade das crianças podemos vislumbrar laivos de sabedoria. Qualquer outra forma de acumulação de conhecimentos pressupõe um indesejável afastamento dos Homens, e é entre os humanos, (esses seres frágeis e cheio de falhas) que nós vivemos
Terras de São Paulo, manhã de Terça-Feira, meados de Setembro de 2010
João Bosco