O preço de tudo
Acordei na noite
E andei pela casa
Tinha fome
Mas caiu a árvore e não houve mais tempo
Construi meu último pesadelo
A porta travou na hora
Eu não escapei por acaso
Mas vou esperar amanhecer
Na praia no último dia
Terei pouco tempo
Vou pescar
E talvez minha rédea fique sem mãos.
A música vinda de longe
Não entorpece
Mas posso viajar
Em suas notas
Vou tentar de novo
Dormir sem revolução
Reduzir a dose de ontem
E tentar me manter acordado
Vermes detonam minha existência
Me julgar é mais do que normal
A conta vai pra você pagar
Não tenho tempo de dar o troco.
A chuva fria fina
Determina o frio que fará
A semente que germinará
A colheita que nos proverá
O rio cheio de problemas turvos
Os peixes mortos
O ar remoto
Cheira a mortos.
As ruas cheias de indivíduos frios
De empregos inuteis
De mulheres fúteis
De sinais fechados.
Estou esperando ser chamado
Na fila do pão
Ser chamado pra vacinação
Ser levado sem querer voltar
O que você faz nessa estrela
Com planetas tão distantes
Com seres tão arrogantes
E eu só queria café.
Vão Enforcar-me à noite
Sob o olhar de ninguém
Testemunhas dirão ao juiz
Não vi, não sei, não fiz nada.
Não sei onde vai parar
O preço dos homens ricos
A cara da mulher cara
A carne do boi bumbá
Passei a mão sem querer
Na bunda mole do funk
Passei sem querer querendo
É que o álcool ganhou.
Tirei o dia pra andar sem rumo
Vou pro norte vou pro sul
Quando chegar aviso
Numa mensagem de texto
Seu abrigo é aqui
O acordado ainda vale
Porque falar a verdade
Me põe fora do seu grupo?
Desaguado em águas passadas
Meu tempo limitado é relativo
O rio pareceu degelado
A água pareceu segredo
Água suja em pedra limpa
As imagens das igrejas
As melancias estão secas
O mágico encanta a plateia
Passou tudo no jornal.
guedesharasmar@gmail.com
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