Infância
Brincava com os ladrilhos da calçada
Com os velhos nos bancos da praça
E zunia a repimboca da língua
Enquanto a parafuseta dos olhos,
Chorosos e esmirros,
Bizoiava os olhos das borboletas
Das testas encardidas, das bundas budistas
E peralta ia a menina do riso sardônico
Explodindo o mundo com palavras de terrorista
Que só um demônio lisérgico e esquizobúndico
Poderia compreender o motivo de tanta peripécia
A menina espirulitava o doce da infância
Que é não entender as coisas
Saber delas o essencial para não ser arrogante
Para o mundo ser mágico e muito mais elegante
Dizer o absurdo é a loucura e epifania dos gênios
Que só os gênios entendem e sonham
E só nós, estúpidos e letrados, temos pesadelos
Pois afinal, como diria a menina da palavra rasa e da língua rasante:
Para desconhecer o desconhecido
É preciso ter a liberdade de inventar aquilo que não existe.