Poema de fases

I

No sertão vasto

O ser homem é poesia.

A palavra é arma

O chão rachado

E fome por justiça.

O povo grita!

Sol extenso sol

Deixa pele morena

Do trabalhador

Estação seca

Faz baiano lutador

Com terço na mão

II

Não sei pra que me serve

ser homem como todos

os outros empestados,

e assim devasso.

A politica não é corrupta, O homem

que se faz corrupto. E assim desonra

a câmera desta cidade-coragem.

Meu orgulho fica escasso.

Adoro a arte baiana,

mas não esta terra gana

que me arde em chama

Moro na terra manchada com o sangue

dos donos, erguida com o sangue negro

e colonizada por um povo exangue.

III

E minha poesia se esvai!

Os versos ficam livres

Des... fra... g-men... ta… dos.

O Eu então se abusa

Escreve sobre ele mesmo. Sem mais métricas,

sem suas varias rimas pobres, e ricas,

sem crítica e apego pela a sua terra.

O Eu então escreve:

IV

Nasci...

Olhos a observar o outro

Mãos a tocar o outro

Ouvidos a escutar o outro

Língua a provar o outro

Nariz a cheirar o outro

Nasci...

Mas não tenho os mesmos olhos dos outros

Mas não tenho as mesmas mãos dos outros

Mas não tenho os mesmos ouvidos dos outros

Mas não tenho a mesma língua dos outros

Mas não tenho o mesmo nariz dos outros

V

E lá no canto eu canto

A minha ultima canção:

- Acender meu corpo!

Ascende minha alma!

Emergir de todo este caos!

Imergir em toda calmaria!

VI

E outra vez a minha poesia se esvai!

Sem haicais

Sem métricas

Sem rimas

Sem críticas

Sem versos livres

Sem anáforas

Sem Eu

Sem palavras.