O Homem e a cidade Grande.

A Cidade grande

Por Paulo Acácio

É o sinal fechado para a via...

Sou eu e todos em movimento.

Ponto de partida e chegada dos des-tinados.

A cegueira da visão num clarão em pleno movimento.

A solidão e a surdez em movimentos contínuos de pessoas

e coisas e carros e motores à procura do nada.

Identidades não identificadas.

Natalidades despatriadas de criaturas desnaturalizadas.

Homens-máquina em desfiles diários.

Corpos ao leu.

Dias de breu.

Moradias esconsas sob estradas suspensas.

Noites sem sono e sem sonhos.

Praças deitadas, cédulas velozes e bolsos cheios de corações vazios.

Lugar comum. Lugar de tudo. Lugar nenhum. Lugar distante. Lugar de ninguém.

Floresta de cimento, madeira morta.

A semana sem o fim.

O fantasma do fim... Do mês.

Eu e todos. Todos pra ninguém.

É um muro alto.

Da cerca elétrica circulando a casa

É a casa do dono do cão que cuida.

O carro que blinda a vida do dono que guia.

O terno que advoga a vida do homem que perdeu...

A honra estampada na cifra do hedonismo que compra.

A vida do homem que nunca encontrou a felicidade prometida.

Porque estudou a ciência que errou no cálculo do salário do trabalhador.

Na cidade grande de luzes, cruzes e búzios e busto do aristocrata que morreu.

No corre-corre da guerra urbana entre balas perdidas que nos acham e nos aniquilam.

A música, cuja dança ritima freneticamente o compasso dos nossos afazeres cotidianos.

A cidade acordada para se cumprir metas e padrões de qualidade estabelecida: não de pessoas.

É a metamorfose do homem no homem.

É o homem que está se perdendo na vastidão deste lugar.

É a sirene anunciando o seu transporte para o fim.

É o fim do fim.

É a luz dos prédios que não têm a luz do Sol.

É o começo da fila dos sonâmbulos nos pontos de ônibus.

É a Lua que não vejo:

Porque Minguou!

Porque não cresceu!

Porque encheu e se esvaziou!

Porque ficou nova e desapareceu!

É a lua sem as suas fases; sucumbida pelas paredes de concreto.

É o homem que se torna mais concreto.

É esta cidade que não pára.

É a maternidade dando a luz.

É este léxico urbano no barulho desta cidade.

É esta Cidade grande-Palco do teatro das vidas errantes.

É a transparência da luz mostrando o homem intransponível.

São todos Nela com idas e vindas, vindas de vida de todos os lugares.

É esta cidade grande.

São todos querendo ser grande.

É a vida que aqui não tem hora pra começar.

É a rua e o trânsito, o pedestre e a sua faixa.

É o outro lado da rua.

É a distância entre eu e mim mesmo.

É o sinal que já vai se abrir.

... para tudo continuar.

“... ... ... “

Paulo Acácio
Enviado por Paulo Acácio em 08/11/2010
Código do texto: T2603480