LÁBIOS QUE AGORA PODEM CANTAR
Lábios que por muitas vezes
surpreendem silentes, mudos,
no louvor entre frias paredes
ouvidos que se fazem surdos.
Lábios na igreja em adoração
que já apresentam-se pálidos
não mostram qualquer canção,
mesmo outrora sendo cálidos.
Lábios mudos, tão fechados
de sentimentos engasgados;
lábios oblíquos, dissimulados
perto de olhos aterrorizados.
Lábios mortos e indiferentes,
inexpressivos, tais lábios, até;
não se importam com gentes,
incapazes de expressar a fé.
São uns lábios tristes, opacos
algozes ferinos do próprio ser,
que se impõem vis obstáculos
na ânsia cruel do não-viver.
São partes de uma face triste
e de coração sem formosura,
que em tremor o ódio insiste
a demonstrar nesta clausura.
Lábios que seguem os olhos
na desgraça da própria vida
e se impuseram vis ferrolhos
no transcurso da febril lida.
Lábios que sequer balbuciam
a doce melodia das palavras;
ausências de amor anunciam
a imposição de umas travas.
A dor daquela vida era forte,
pois o corpo tremia tão junto
ao louvor que parecia morte,
sacudindo como um defunto.
E lágrimas a descer no rosto
fugiam ligeiras de fazer mal,
mas ela com cara de mosto
se contorcia ao sabor do sal.
E tal se repetiu muitas vezes,
sem canção, lábios parados.
Decorreram cultos por meses
e os lábios mudos, calados.
Mais ninguém via a ocorrência,
ou egoísmo marca a adoração?
Ninguém via a consequência,
que faz sofrer o triste coração?
Até que um dia fiquei surpreso
ao chegar atrasado para o culto
e aqueles lábios algo indefesos
não tinham mais o louvor oculto.
E a moça cantava em profusão,
expressando verdadeira alegria
e abraçava ao lado cada irmão
com sorriso que todos contagia.
O pastor inverteu do culto a ordem,
começando pela sua pregação
e a vida que era uma desordem
fez-se outra diante da explanação.
O pastor lhe apresentara o Cristo,
desse mundo: Caminho, Vida, Luz.
E ela destravou-se em seu espírito
pela Palavra e pela fé em Jesus.
Seus lábios agora podem cantar;
os grilhões já foram rompidos.
Livre, ela podia a Deus louvar,
fazer parte do coro dos remidos.
Lábios que agora podem cantar
ao Deus eterno louvor de gratidão.
Lábios que a dor ensinou a amar
a Deus acima de toda a Criação.
Josué Ebenézer – Nova Friburgo,
23/03/2025 (7:05).