DISCÍPULO ENCONTRA O MESTRE NAZARENO

Discípulo:

Mestre venho à luz da estrada

trago angústia e desalento

quero ouvir teu pensamento

tua voz firme e inspirada

Dize pois tua jornada

que antevia o sofrimento

Mestre:

Filho a estrada é inclemente

mas segui sem hesitação

sabia bem da traição

do açoite cruel pungente

Aceitei sereno e crente

a prisão e a solidão

Discípulo:

Que mistério assim se encerra

neste tempo atravessado

Quem penetra o imprevistado

desafia a própria terra

Mas quem sabe o que se encerra

segue o passo já firmado

Mestre:

A grandeza de um humano

não se mede pelo aço

mas no brilho do compasso

quando abraça o próprio dano

Só é forte o soberano

que se assume em seu fracasso

Discípulo:

Hoje vejo quanta gente

anda altiva e destemida

mas se esconde dolorida

com temor que a dor apresente

Ser herói não é valente

se da angústia faz partida

Mestre:

Filho ouve este segredo

só se cresce quando cai

quem é grande e nunca vai

reconhecer próprio medo

cava a cova do degredo

e no orgulho se distrai

Discípulo:

Mestre agora eu entendo

tua dor tua lição

pois que Deus na imensidão

na fraqueza está tecendo

um amor que vai vencendo

com ternura e compaixão

 

Decimar da Silveira Biagini

Poema metafísico