A DORMIÇÃO DA VIRGEM
Lembro, em Mateus, aquela frase histórica
Narrando aqui o trânsito de Maria.
Que, em Éfeso, vai se tornar dogmática
- sua tradicional genealogia,
Que traz à luz um belo panegírico:
“Maria de quem nasce Cristo Jesus!”
Do Pai receberá confirmação
Belo retoque – gloriosa Assunção!
Brevidade da vida... Tudo passa!
Da cova rasa ao belo mausoléu,
Onde triunfante só a morte campeia
De todos, no fim, este é o troféu...
Da nau naufragada em mar pouco fundo
Em que se vê o mastro – constante aviso!
A ele os túmulos são semelhantes:
Casas nas quais seremos habitantes!
Se a morte nos é derrota humilhante
Para Maria é vitória invulgar...
“Isso não!” – ousam antigos. Não obstante,
Diz a Munificentissimus Deus:
“Não há dificuldade em admitir
Que, como o Unigênito, Ela morreu”.
Se é mortal, marcha pra dissolução
Carne assumida na Encarnação.
Não foi idade nem enfermidade
A “causa mortis” em sua certidão.
Foi o grande desejo da Eternidade
O pleno anseio do seu Coração!
O Amor, entre as paixões, é a mais forte,
Em muitos santos, fogo abrasador...
Teresa de Sena o testemunhou:
“Seta de fogo que quase a matou!”
Experimentara de Ana e Joaquim
Materno e paterno amor, sem igual...
E em Nazaré encontrou, outrossim,
No justo José o amor marital.
Com o Filho Jesus, amor mais profundo
Viveu a Virgem, Serva do Senhor!
Mas se, do Espírito, a sombra a cobria
É que outro Amor – o do Pai! – já possuía.
Pela foice da morte foi golpeada!
Momentaneamente, Maria vergou
Pelos raios do sol, é flor crestada...
Com a sinistra ceifeira se encontrou.
“Maria morreu!” – choraram os apóstolos
Exultam, porém, os Anjos do Céu.
Do Sol da Justiça veio o decreto
Que uniu a Mãe ao Filho ressurreto!
A carne do Filho, glorificada,
De Maria é que ela foi recebida.
Iam ser, em seu ocaso, separados,
Destinos unidos por toda a vida?!
Para acolhê-lo, foi Imaculada.
Na missão, sempre ela o acompanhou...
Se a paixão de Cristo urgia Ascensão,
A de sua Mãe clamava Assunção!
Conceição Imaculada – o destino
Da divina espiritualização...
O Espírito Santo vai assumindo
- desde o momento da anunciação,
E vai nela agindo, pra estar no mundo,
E construir a plenificação...
A grande culminância é a Assunção:
Do Feminino a divinização!
Morrendo, a Virgem Mãe ressuscitou!
Em outra forma de vida emergindo
Dos liames terrestres se libertou,
Na própria vida de Deus se incluindo...
Da vida, absoluta realização,
Conserva a identidade pessoal.
No Reino da Glória, na Ressurreição,
Agora vive a forma terminal!
No eterno Amor, descansa o coração,
Sacia a vida na Fonte encontrada...
Goza radical hominização
Sua feminilidade consagrada.
De forma atuante ainda, em nossa História
Presente, embora aos olhos invisível,
Não é, do passado, pura memória...
Ela é real, mesmo que não perceptível!
Uma relação maternal, terna, íntima,
O coração puro pode empreender.
Com sua Mãe Maria, Virgem Santíssima,
Tal laço a morte não pode romper.
Todos os que já morreram no Senhor (cf. 2Cor 5,2-6)
Unem-se ao povo que ainda padece
E elevam juntos em forte clamor:
“Salve, vida, esperança nossa” – a prece!