Um Pecador e as Cinco Chagas.
Avareza cerca meu peito, sem jamais dar féria.
Rodopio sedento como um cão atrás de luxúria,
Ridiculamente, corro atrás de meu próprio rabo,
Alma de boca seca, tenta saciar-se em oásis ilusórios,
Nunca conseguirás o que desejas, não nessas fontes secas.
Corra, tente, se esconda, atravesse rios, mares e países,
Atrevesse montanhas, serras, cidades e continentes,
Indo atrás de si mesma, jamais encontrar-se-á.
Minha vontade vagabundeia, sempre tão gaudéria,
Encontrando pelo caminho, alimentos espúrios.
Sai da minha razão: heresias em tom de pilhéria.
Entrei cada vez mais fundo dentro de minhas paixões,
Nelas, vou descendo as escadas que me levam pra baixo,
Há sempre um nível inferior, um sub-solo, um porão.
Onde está o limite do quanto podemos descer?
Rotas de fuga, planos de escape, nada tem funcionado...
Do meu jeito, continuo descendo, com minhas forças
As escadas correm cada vez mais rápidas...
Mas, a Luz me cega, vejo a sujeira na artéria.
Interrompendo minha descida vertiginosa.
Nessa abrupta redenção, fui presenteado.
Há agora em mim, a capacidade de olhar pro céu,
Almejando a bem-aventurança, e correndo pra ela!
Em torrentes de graça, transformas minha matéria1.
Xarope para minha doença é a Santa Cruz!
Traz para meus ossos e carne, a vida e o espírito.
Restaura-me quando caio, consola-me na dor.
Então, entregar-me-ei, consagrar-me-ei
Mediante a oração, o jejum e a meditação da Palavra.
Almejo somente ver-te face a face, contemplar-te!
Mediante tua Glória, sou uma mera bactéria.
Indispensáveis, são tuas majestosas chagas de sacrifício!
Sem a meditação de tuas dores, não poderia eu ter o céu,
É pelas tuas caridosas mãos rasgadas que eu sou levado a ele.
Repenso e revejo sobre a ferida do teu lado e teus sofreres tantos,
Indesculpável, recaio chorando copiosamente em teus pés santos.
Arrancai-me, Senhor, Da Minha Extrema Miséria2!
1 - No sentido aristotélico.
2 - Salmos 24:16-17.