Eu sou dele, ele é meu!
(Cantares de Salomão)
Eu sei por onde tu andas,
guardando o teu rebanho,
O sol do meio dia aquece,
fazendo um calor medonho!
Por que eu iria procurar-te,
Errando pelos desertos,
Por que eu iria buscar-te,
Junto dos teus companheiros?
Também levo meu rebanho
Minhas cabras, meus amores,
As apassento entre lírios
Junto as moradas dos pastores!
Sou ligeira, sou esperta,
Corro e pulo num pé só,
Meu amado me compara,
Aos carros do Rei Faraó!
Ele acha mui agradável,
Minhas faces com enfeites,
No pescoço meus colares,
E nas orelhas os pendentes!
Ele sempre me dá presentes
Joias de ouro e de prata,
Eu retribuo com carinho,
Digo o quanto sou-lhe grata!
Ele assentou-se á mesa,
Eu senti o seu perfume,
Meu coração bateu forte,
Foi como que um queixume!
Ele me diz: tu és formosa,
O nosso amor não tem sombras,
Os teus olhos me prenderam,
E brilham como os das pombas!
Para mim ele é mui gentil,
Tão agradável, sem igual,
O meu amado é formoso,
Muito belo e sensual!
E assim vamos vivendo,
Esse amor veio do céu,
Ele me ama eu o amo,
Eu sou dele, e ele é meu!
LINDA INTERAÇÃO DO POETA MIGUEL CARQUEJA A QUEM AGRADEÇO PELA HONRA DE INTERAGIR COMIGO. OBRIGADA MESTRE.
Interação de Miguel Carqueija
A PASTORINHA DE CABRAS
(Miguel Carqueija)
Com a minha calça de brim
levo comigo Avelã
que está sempre junto a mim,
a cabrinha é minha fã!
Solto o canto na montanha
na campina verdejante,
contemplo a teia da aranha
que o raio de sol faz brilhante!
Muito alegre eu pastoreio
com amor no coração;
o trabalho é meu esteio
e eu vivo de pé no chão.
Cabras, toquem seus sininhos
vamos voltando pra casa:
avezinhas vão pros ninhos
hora de recolher a asa.
Cabra é um bichinho amoroso
prova disso é a Avelã;
meu xerimbabo dengoso,
meu tão fiel talismã.
Com meu cabelo curtinho,
olhos negros de alcatrão,
vou seguindo meu caminho
ao longo do ribeirão.
E sob um sol radioso
contemplo a minha cabrinha
comendo um capim gostoso,
como Avelã é fofinha!
Do outro lado do vale
segue a mana com as galinhas
e enquanto o pé não resvale
eu corro com as cabritinhas!
Fazem “mééé” com tanto gosto
fique a mana com as galinhas;
vou ficando no meu posto
e assim as cabras são minhas!
Com blusa quadriculada
caminho a mais não poder
sorrindo, bem-humorada,
com alegria de viver!
A montanha é poesia
num resplandecer vital;
graças meu Deus por tal via,
e aqui não existe o mal!
Como Heidi sou livre e pura,
filha alegre do vergel;
carrego oculta a bravura
tal qual um Guilherme Tel
de quem eu sou descendente
então amo a liberdade,
e quero ser a semente
do amor e da verdade!
Avelã é uma irmãzinha
que me segue aonde eu vou;
tão amiga, pobrezinha,
e jamais me abandonou!
No fundo o meu coração
tem um desejo guardado:
a identificação
do meu Príncipe Encantado!
Mas mesmo se eu me casar
direi firme pro meu bem:
com as cabras tens que ficar,
pois vão comigo também!
Rio de Janeiro, 3 de outubro de 2015.