Daniel de Samarate
As primeiras turmas de honoráveis frades,
Barbados capuchinhos em surrados hábitos,
Adentraram a floresta em canoas ou cavalos,
Levando o Evangelho aos povos daquelas paragens.
Então, ao nordeste amazônico, chegou o Frei Daniel,
Missionário vindo de Milão, todo em juvenil vigor;
De São Luís ao Grão-Pará, incansável se doou;
Sua humildade, nas cidades e colônias, vigorou.
Sacerdote audaz e amável, querido pelo seu povo,
Fez-se tudo para todos, com esforço e tenaz ação;
Visitou vilas e aldeias, propiciou a educação
Às crianças, e catequese; era, para todos, o irmão...
Porém, à época, lançando-se, a confortar cada doente,
Golpeado, foi, pela lepra; e exilado, foi, da sua gente.
Deixando o Retiro Saudoso, em Belém do Grão-Pará,
Beijou paredes e portas daquele convento singular;
Seguiu para o Tucunduba, vila dos desterrados leprosos,
Onde o seu coração-bom-pastor se comoveu em amor.
Venceu alguma resistência, com balas, tabaco e humor
E, um com eles, foi-lhes: pai, irmão, amigo e servidor.
Do Tucunduba fez sua paróquia, com fé e senso paterno;
Vencendo os dias, ele se fez, como um São Francisco fraterno:
Testemunha de esperança, espelho e imagem de Cristo,
Até que lhe chamou o Altíssimo, para o prêmio sempiterno...
Cem anos se cumprem, agora, da definitiva despedida
Desse herói de humanismo, que na Amazônia, habitou
Como imorredoura lâmpada de devoção e boa vontade,
Que de Samarate brotou, mas em velho paraense se findou.