Gênesis ( 32:23 ) Jacó em Peniel

Jacó luta com Deus

Seguia o rio o fluxo d'água manso

Como que mudo, em lânguido descanso...

Da sonolência, entanto, retirado

Pelos pés do tropel cruzando o gado.

Jacó, com os onze filhos, conduzia

Raquel, ao outro extremo, com cuidado,

Cuidando logo conduzir a Lia.

Passaram todos pelo rio manso

Jacó, porém, e único faltava;

Quando pisou as águas, num avanço

Surgiu um homem, iniciando luta brava.

De braço a braço, punho, torso a torso,

Estoura-se um combate, de repente,

E rio jorra, em fúria, aos borbotões,

De golpe em golpe, agarro e agarro, e esforço

Os dois se enlaçam símil à uma serpente

Que a ferro e fibra enrosca seus grilhões.

Afrontam, cingem, fervem, troam, pelejam,

Sob luz e treva, drástico ruído,

E berra o rio e barra o filho ao pai;

Na estrema, desesperam e desejam

Que o estranho logo tombe combalido

Que logo caia em terra, mas não cai.

Lia desmaia, e de Raquel se escuta

Trêmula angústia, um brado de revolta

Explode em boca, Rúben, a estremecer!

Com mais ardor prossegue a fera luta

E o homem agarra Deus, Deus não se solta,

E unidos vêem a luz do amanhecer!

Surgindo a aurora, Deus que lhe é mais forte,

Golpeia a coxa de Jacó na junta

Jacó, porém, o enrosca mais fiel.

— Para! Venceste a Deus, venceste a morte,

Jacó não entende, o nome lhe pergunta:

— Meu nome é mistério, o teu é Israel.

E foi-se o homem embora, e entre as nuvens fitando

Quedou Jacó ali ao ver-Lhe aos céus alçando,

Num infinito horror, sem voz, apavorado

Notando sê-Lo Deus que em face havia olhado…