HISTÓRIA DE UMA ALMA (I)

“A terra parecia-me lugar de degredo, e eu sonhava com o Céu” – Santa Teresinha de Lisieux.

Eis que sobre a Montanha sopra

O frio vento outonal,

Levando folhas douradas

E parecendo querer varrer

O ruço [1] que desceu

Dos píncaros da Mantiqueira

E cobriu o burgo serrano

Com seu alvo véu melancólico.

Neste apartamento que tem sido

Meu chalé na Montanha,

Eu, mergulhado em solidão,

Estou agora relendo “A história de uma alma”,

De Santa Teresinha de Lisieux,

Padroeira de Campos do Jordão

E protetora dos tísicos como ela,

Como há pouco reli

Alguns poemas de Ribeiro Couto

E boa parte de seu livro

“Presença de Santa Teresinha”,

Ilustrado por Portinari.

Neste apartamento que tem sido

Meu chalé na Montanha,

Eu, entregue à solidão e à nostalgia,

Tenho também meditado

Sobre mim e minha melancolia.

Grande é a solidão,

Como grande é a melancolia,

E tudo em mim é solidão

E melancolia.

Tenho preferido a solidão

À companhia humana

E me encerrado dentro de mim

E muitas vezes me perdido

Nos labirintos de meus pensamentos,

Lembranças, saudades e sonhos.

Alguns poetas d’antanho diriam

Que tenho vivido

Sob o signo de Saturno,

Senhor da Melancolia.

Lá fora, na Montanha,

Dissiparam-se o ruço e o vento frio

E as primeiras folhas douradas

Deste nascente outono

Voam agora a uma brisa suave

Como a melancolia

Que se encontra sempre presente

No íntimo da minha alma,

Onde nuvens crepusculares

Choram incessantemente

Uma fria chuva interior.

Alguns poetas d’antanho diriam

Que tenho vivido

Sob o signo de Saturno,

Senhor da Melancolia.

Ouço ruídos ao longe.

O vento frio voltou a soprar

E chorar e a indecisa música

Dum violino qualquer,

Cuja sonoridade me chega

Agora aos ouvidos,

Melancoliza docemente

O meu coração,

Como um dia o som

De um outro vento

E de uma outra música

Melancolizou suavemente

O coração de Santa Teresinha.

A terra tem me parecido

Um lugar de degredo

E, como Santa Teresinha,

Tenho sonhado com o Céu.

Grande é a nostalgia

Que tenho sentido

Em meu coração

E nostalgia é maior

Que a nostalgia que sinto

De Deus e da Pátria Celeste.

Lá fora agora chove docemente

E uma névoa suave e fria

Cobre os píncaros da serra,

Enquanto a noite, pouco a pouco,

Se aproxima do burgo montanhês.

Eu quero triunfar sobre mim mesmo,

Como Santa Teresinha um dia

Triunfou sobre si.

Eu quero dominar meu temperamento,

Como Santa Teresinha dominou o seu,

Que era, aliás, semelhante ao meu.

Eu quero seguir o exemplo de Santa Teresinha

E aumentar a minha fé

E confiança em Deus

Para suportar os sofrimentos que Ele me deu

E me tornar santo

Como Santa Teresinha e o Pai do Céu.

Victor Emanuel Vilela Barbuy, Campos do Jordão, 2 de abril de 2022.

[1] Nome dado a um denso nevoeiro, tanto na Mantiqueira quanto em alguns outros lugares do Brasil.