Primavera de Pecados

Todos reclamam de um mundo cruel,

Apega-se ao pecado

Como a abelha ao mel

E dizem que é errado

Cada coisa do Céu.

Olhando lado a lado

E julgando cada réu,

Vejo Deus ignorado

E sempre culpado

Neste quartel.

Onde cada soldado

Se julga coronel.

Onde pangaré abobado

Se vê como corcel,

Nada mais é sagrado,

Tudo é bordel.

Quem dera Deus sacrificado

No mais amargo fel

Fosse cultuado,

Mas o povo é infiel.

Estou cercado

De um povo intolerável

Que repudia o sagrado

E venera o repudiável.

Não quero ser abandonado

Neste inferno insanável

Onde cada dia sou carregado

Com sempre algo abominável.

Me sinto herdeiro de endividado,

Tenho que pagar pena insaciável

E da alegria me ver privado,

Porque vivo num mundo onde até Deus é descartável.