(Des)Apontamento

OBS: Escrito antes da conversão, o que provavelmente diz muito sobre mim.

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Há um Ai em mim.

Por não haver em mim morada à Esperança;

Seja nos homens, na ciência, na arte, na evolução,

Nos governantes, na tecnologia, ou na revolução.

Há um Ai em mim.

Por ser um incrédulo de toda possibilidade de mudança através de qualquer possibilidade.

Por isso só o impossível Deus-do-impossível me resta;

(Paradoxalmente a única esperança de um cético como eu.)

O único que não requer a Razão,

Pela qual a todo o resto deneguei o potencial de transformação.

Há um Ai em mim.

Pois só a Fé cega pode me guiar pelo caminho da Esperança;

Que não vejo na facticidade, essa tal Esperança.

Há um Ai em mim.

Porque só há em mim vontade de fé.

Quereria ter eu fé no juízo último ou no arrebatamento.

Ah, que a todos os iníquos se extirpasse;

Que todos os perversos se extinguissem;

Que a toda sórdida gente se exterminasse;

Que os pérfidos se erradicassem.

Que os de humanidade não alcançada — ou justo os que a alcançaram? — definhassem.

...

Se após isso eu estaria feliz?

Não; morto também estaria!

Mas ao menos o Mundo que rompesse não conheceria a dor calculada;

O verme pretenso;

O sanguessuga do abstrato;

A maldade consciente;

A vingança fria.

Ao menos...ao menos não haveria esse Ai em mim nem em nada.

Satisfeito estaria de o fim deste mundo ser também o meu fim,

Mas meu fim, é só o fim deste mundo...

Pr’a mim.

David Ariru
Enviado por David Ariru em 04/08/2020
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