Nestes Mares Sepulcrais...
O poema abaixo é resultado de um desafio entre o poeta Gustavo Valério Ferreira e eu. Em frente a nossa amizade, é de uma felicidade tremenda realizar este exercício, ao mesmo tempo, é uma honra da minha parte compor com tão exímio escritor!
Montamos o desafio a partir das recomendações de Antônio Feliciano de Castilho em seu Tratado de Versificação publicado em Lisboa, em 1851.
Segundo Castilho, o verso ideal é aquele que tem a maior variação fonética, conseguindo abranger todos ou a maioria dos sons vocálicos.
DO DESAFIO:
Fazer um poema com versos isométricos obedecendo as seguintes regras:
*1.* Poemas isométricos
*2.* Sem metaplasmos
*3.* Ter 2 quartetos
*4.* Rimar todos os versos (rima soante)
*5.* Usar todos os sons vocálicos por verso
*6.* Usar o vocábulo "céu" na 6ª tônica do verso 4.
Observe que a vogal não precisa aparecer graficamente, basta que o fonema seja representado.
Sendo assim, a vogal "O" e a consoante "L" podem representar o som da vogal "U" em algumas palavras; A vogal "E" pode, do mesmo modo, representar a vogal "i".
Tem-se abaixo o resultado do poema, a inspiração deriva da passagem bíblica em que Cristo caminha sobre as águas e, logo após, socorre Pedro:
E Jesus respondeu: “Vem!”.
Descendo do barco,
Pedro caminhou sobre as águas
e foi ao encontro de Jesus.
Mas, sentindo o vento,
ficou com medo e, começando a afundar,
gritou: "Senhor, salva-me!"
Jesus estendeu a mão prontamente e o segurou,
respondendo-o :
“Homem fraco na fé, por que duvidaste?”
São Mateus 14, 29-31
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DO POEMA:
As águas por que piso, de mansinho
Dizimam cada cinza dos teus ais!
Os gritos destes mares sepulcrais
Conferem sóis ao céu do teu caminho...
Jesus, que procurava por soldados,
Quis Pedro nos seus braços imortais...
Amava nos caminhos infernais
O Cristo que derruba vãos pecados!
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* Que honra da minha parte receber esta linda interação da Aila Brito! Segue abaixo o desafio cumprido por ela:
UM RIO POR MINHA FACE
Aila Brito
Na noite tão tristonha dos meus dias
Procuro disfarçar meus ideais;
No peito reboliços hibernais
Traduzem no meu céu, manhãs tardias...
Promessas vãs, fatais ao desenlace
Distando sóis dourados faciais,
Vertendo gotas, muitas, glaciais
- No rio que jorrou por minha face.