De olhos abertos
Há muito tempo sou cristão
Sempre em meio aos louvores e ao partir do pão
Acostumei a ver nas paredes um Jesus desfalecido
Morto e esquecido
Ouvia sempre dizer que ele estava vivo
Mas o que meus olhos viam era seu rosto esvaído
Contudo afirmei para mim
Jesus vive, pronto e fim
Até que algo mexeu comigo
A pintura de um Jesus vivo
Seu rosto num quadro bem de perto
Com olhos abertos e não cobertos
Logo uma inquietação tomou conta de mim
Imaginei esses olhos contemplando o presente e o porvir
Toda a injustiça e falta de amor
Miséria, fome, guerra e terror
Tudo passando pelos seus olhos
E mesmo assim ele não viu nossos rogos
De frente ao quadro murmurei
Onde estava você no momento de escassez
Quando homens maus se levantaram
Não poderia você tê-los derrubado
Indignado virei seu rosto para trás
Não suportava mais vê-lo tão incapaz
Então ouvi bem claro algo me dizer
O homem mau é você
Virei o quadro novamente para mim
Chorando pedi perdão e disse envia-me