RESCALDO DA PÁSCOA 2018

“Pilatos versus Jesus”

- Senhor, eis que uma imensa turba se aproxima

Acompanhados de um prisioneiro afamado

Que agora trazem ao Pretório acorrentado,

Mas não ousam entrar, pois têm a Páscoa em estima.

Pôncio Pilatos saiu para com eles falar:

- Que acusações vós tendes contra o tal famoso,

E que até mim trazeis à laia de criminoso?

- Pois, se o não fosse, não to viríamos entregar!

- Mas, levai-o e julgai-o com a vossa Lei…

- Não temos o direito de executar ninguém!

- Pois, se assim é, eu verei o que é que ele tem

Para me explicar e em seguida vos direi.

- Dizem que és Galileu e que és o Rei dos Judeus?

- Essa pergunta é tua ou outros to disseram?

- Achas que eu sou Judeu? Eles é que te entregaram…

De que é que te acusam, que crimes são os teus?

- Eu sou Rei, sim, mas meu Reino não é deste mundo!

- Com que então, por ventura, tu agora és Rei?

- Sim, tu o dizes e, podes crer, sempre serei.

Os seus interesses, co´ os meus, eu não confundo.

- Se meu Reino fosse daqui, meus servos lutariam

Para que se instalasse segundo a minha vontade…

Mas o meu Reino, sendo um Reino de Verdade,

Estes Judeus, acredita, nunca me prenderiam.

- Posso então concluir que tu és mesmo um Rei?

- Tu cá o dizes, e por causa disso ao mundo vim,

Para dar testemunho da Verdade, sim,

E de todos os que me ouvirem eu cuidarei.

- Mas, o que é isso da Verdade? E a voz ergueu

Para quem estava do lado de fora do Pretório,

Dizendo: - Não lhe´ encontro nada de notório,

Levai-o, pois, que a paciência enfraqueceu.

- Ele tem que morrer, pois fez-se Filho de Deus!

- Vês tu, ó Galileu, como está a situação?

E vós, ó Fariseus, não há motivo d´ acusação!

- Deixa-os falar, pois não conhecem os ideais meus…

- Ó gente desordeira, quereis este ou Barrabás

Que tem sido um diabo à solta por todo o lado?

- Antes Barrabás, qu´ este tem-nos amaldiçoado!

- Ai, é assim que quereis? A mim tanto me faz!

- Olha, arranja-te com eles, ó Nazareno Cristo,

Lavo daqui as minhas mãos, já não os aturo…

Nunca pensei qu´ este meu cargo fosse tão duro:

Escreverei a César e contar-lhe-ei tudo isto!

- Pois, dizes bem, não terias nenhum poder hoje

Se não te fosse dado, lá do alto, todavia

Não haverá mal para ti em demasia…

E faz o que tens a fazer pois que o tempo urge!

- Bem me frisou a Cláudia quando teve um sonho,

Dizendo-lhe uma voz que tu estavas inocente…

E agora, vês, eu tenho-te réu à minha frente

E com um peso na consciência bem medonho…

- Não temas, pois que o teu dever assim ordena:

Eles não sabem o que está dito na Escritura

E muito menos que todos têm uma cruz dura…

E sofro e choro por ver gente que me condena!

- Pilatos, meu irmão, eu sofrerei por ti

E tu, Jerusalém, irás chorar teus filhos

Se não enveredares por mais suaves trilhos

Enquanto eu, ó Pai, meu corpo redimi!

Frassino Machado

In ODISSEIA DA ALMA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 04/04/2018
Reeditado em 04/04/2018
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