Preamar de Outubro

Belém, 7 de outubro de 2017.

Santa Nazaré,

Permicença.

Não sou religioso.

Sou um pecador.

Deverei ser julgado um dia como todos os mortais.

E imortais.

Se a Senhora permitir, queria fazer pedido.

Pedido amazônico.

Nada quero nada pra mim, pois já tenho muito da saúde e curiosidade pra estudar que Deus e a Senhora me afortunaram. Sou infinitamente grato.

Queria assim Senhora Santa Nazaré te pedir com o peito amofinado quatro cousas:

Que minha família esteja bem, na amplitude que vá até onde eu não enxergue onde começa e onde termina a família, já numa trançada com os amigos.

Interceda, por favor, que meu filho (apesar das condicionantes do autismo) converse com a mãe dele numa prosa tagarela, daquelas ali na cozinha para ter de resposta o riso dela na íris.

Peço - te, mesmo eu não sendo religioso (desculpe), que nenhuma mulher amazônida seja expulsa de sua casa ou testemunhe o horror de sua casa derrubada.

Tábua a tábua.

Giral abandonado pela opressão.

Dona Naza, podes dizer à jovem senhora e ao seu esposo jovem quando podem eles retornar para a sua casinha de madeira pregada com muito suor e amor?

Aquela mulher perguntou - me quando poderiam voltar.

Eu (tão metido a estudado que sou, um peste soberbo ), não consegui responder.

Não sabia a resposta. Não quero ser enxerido neste momento de tanta demanda, mas podes dar uma luz à jovem senhora que ainda começa a vida?

Uma daquelas luzes que me deste quando eu tinha cinco anos, naquele sonho translúcido de ti chegando - se a mim?

Não prometi na hora, porém vou maturando uma promessa de me fazer secular pergunta no final da barcada na Terra se tive alegrias e quantas alegrias proporcionei .

Juro que avaliarei a mim mesmo para ter a consciência final se servi mais aos exploradores ou aos explorados.

Juro.

E assim sigo na vida na indagação do que é uma igreja.

O que é uma igreja?

O que é uma igreja?

Ando na questão desde os dezessete anos.

Hoje quando vejo teus romeiros descalços.

Humildes.

Festejosos de tal ponto que deixam a cruel Belém mais Santa (ou mais Humana, a Senhora escolhe).

Em que milhões se vêem iguais.

No aroma bom de que poderíamos ser mais justos e próximos.

Junto -me aos rezadores e promesseiros.

Neste sentimento te peço o que pedi.

Não para mim.

Não, Nazinha (Permicença pra te chamar assim? ), e sim todas as suas bênçãos aos que te rogam em cada Preamar de fé.

Hoje, em mim, a Lua estava cheia.

Amém.

Ó, uma flor pra ti, Santinha.