Agonia Divina

AGONIA DIVINA

Era madrugada.

Inquieto, revira-me na cama,

Tentando adormecer.

Foi quando me lembrei de meus filhos.

Eu os queria tanto perto de mim...

Pensamentos de angústia e medo,

Pressentimentos estranhos,

De que estivessem em perigo,

Invadiram minha mente.

Onde estariam agora?

Estariam em perigo?

Uma sensação de medo,

Um tremor de frio

E um sentimento de impotência

Apossaram-se de mim.

-Meu Deus proteja meus filhos, exclamei!

Amargurado, ajoelhei-me aos pés da cama,

E orei com fervor e temor.

Logo depois tentei conciliar o sono,

Mas foi em vão.

Tornei a ajoelhar-me,

E rezei mais angustiado ainda.

Mais uma vez tentei dormir,

Mas a cama me queimava.

Pela terceira vez ajoelhei-me,

E pedi a Deus:

-Senhor, deixe-me escutar a sua resposta...

Aguardei, em vão, a resposta que não veio.

Voltei a rezar:

- Senhor, talvez queira apenas

Que eu fique aqui,

No silêncio da noite,

Fazendo-lhe companhia...

Eu farei isso,Senhor,

Mas vela por meus filhos...

A minha agonia, fez-me recordar

A muito tempo atrás, outra agonia.

Foi no Jardim do Getsemani,

Quando Cristo, por três vezes, clamou:

- Pai, se for possível,

Afasta de mim esse cálice!

Lembrei-me também, de que na Cruz,

Em suprema solidão, exclamou:

-Meu Deus, meu Deus,

Por que me abandonaste?

Só então, comparando minha agonia,

Com a agonia de Cristo,

Pude entender a sua dimensão.

Em minha noite de agonia,

Eu sofrera só por pressentimentos ruins,

De males que poderiam acontecer

Com meus filhos amados.

Em sua noite de agonias,

Cristo sofrera pelos males,

Que ocorriam com toda a humanidade.

O homem-perfeito que não conhecia o pecado,

Pelos pecados do mundo,

No Altar do Getsêmani,

Oferecia ao Pai,

No cálice da eterna Aliança,

Todos os sofrimentos,

Todos os crimes,

Todo o desamor dos homens, seus irmãos.

Pesava no cálice,

Os milhões de abortos

Que ceifam a vida de inocentes,

Antes mesmo de nascerem.

Suas mãos eram esmagadas,

Pelo sofrimento das crianças,

Vítimas da crueldade,

De mentes pervertidas,

E de pais, depositários infiéis,

Do maior tesouro dos céus.

Sofria pelas vítimas...

Sofria pelos agressores...

Eram todos seus irmãos,

Filhos amados do Pai.

Seu coração era dilacerado

Pelos gritos de horror, nos campos de batalha;

Pelas cenas de morte e violência,

Nas ruas escuras das cidades,

Nos guetos, nas favelas,

E entre paredes frias de tantas casas.

Sofria pelos inocentes...

Sofria pelos culpados...

Todos irmãos... Todos filhos...

Tão amados...

Suava sangue de desespero,

Por jovens drogados,

Por pais alcoolizados,

Por filhas prostituídas

E por anciãos abandonados.

Se inquietava em agonia mortal,

Por mães, em noites de vigília,

Aguardando por filhos,

Vencidos pelo mundo,

Subjugados pelo desamor,

Que nem sempre haveriam de voltar.

Oferecia ao Pai,

Profundamente comovido,

O lamento de milhões de mães,

Que inconsoláveis vêem seus filhos,

Morrerem de inanição,

Em meio à fartura dos poderosos.

Compadecia-se por uns...

Se lamentava pelos outros...

Como não ama-los?

Todos filhos....

Todos irmãos...

“-Meu Deus, meu Deus,

Por que me abandonaste?

Como sofro por tantos irmãos que padecem...

Como me angustia tantos filhos que se perdem,

Por não terem compaixão.

Não quero perder

Nenhum dos que me confiaste.

Perdoa Pai,

Não sabem o que fazem!”

Obrigado, Senhor,

Porque hoje pude entender sua agonia;

Porque ao me agoniar como pai,

Pude entender a agonia divina,

De um Deus que é Pai e Irmão.

Porque comparando minha pobre agonia

Com a sua agonia,

Pude entender a extensão do seu amor.

Obrigado pelo Jardim das Oliveiras..

Obrigado pelo Calvário..

Obrigado pela agonia do amor...

Pela Aliança Eterna

De um Deus que se fez homem,

Para elevar o homem à dignidade divina.

Pedro Lodi
Enviado por Pedro Lodi em 22/07/2017
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