Poema da Encarnação

Dormes envolto em pobreza

Escolhestes a miséria por berço

Fizeste-vos carne, Divino Infante

Para Salvar este mundo Tropeço

O que terias conosco que não fosse o amor?

Olhaste-nos complacente do seio trinitário

E num gesto de absoluta entrega

Lançaste-vos neste profundo vale de dor

Desde toda a eternidade

Foste um Altíssimo arquiteto

Precisavas de um lugar por aqui

Um lugar seguro, Puro e quieto

Criaste então temporária morada

Que findos os tempos haveria de deixar

Era esta morada dulcíssima prisão

Por onde no mundo haveria de entrar

Quiseste, por amor, às cadeias atar-se

Fazendo-se por nós um amantíssimo prisioneiro

Para com a fraqueza humana ter semelhança

e como escravo, obedecer a quem criaste

Mistério excelso, um Rei submisso

Um Senhor fazendo-se escravo

Queria com isto aniquilar-vos na Cruz

Para ao Pai ser vítima de desagravo

Do sofrimento fizeste linguagem de amor

Para aos humildes poder ensinar

E trazer aos seus corações

O que só os grandes podiam alcançar

Se falasses de amor em poesia

Só o poeta entenderia

Se em números do amor falasse

Talvez só o matemático alcançasse

Sapientíssimo desígnio o fizeste escolher

À terrena miséria descer

E sendo Deus, descendo ao homem

Deixaste-nos a Vós ascender

Dorme, Divino Infante

Dorme, Vida e Luz

Dormirás, ainda no fim

No doce lenho da Cruz