Finados

“Como podes ter esperança

Ao ver essa putrefação

A dança da chuva com o vento

Os vestígios de um ladrão

Nesse amaro cemitério

Necrópole em labirinto

Como podes tu sentir

Outra coisa do que sinto?

Os anjos com as asas quebradas

Os vasos a chorar

Os crisântemos não bebem tudo

A água chega a extravasar

Se até os vasos choram

Que posso eu fazer?

Vivo temendo a morte

Morro enquanto viver

Luto é meu nome

Discuto com o meu irmão

Esperança é esse parvo

Tonto, idiota, aldrabão”

Então falou a Esperança

“Eu me chamo Esperança

E vivo a esperar

Mas sempre em andanças

Para pouco parar e descansar

Na verdade me alegra ver

Cair a chuva neste lugar

Como cai também o homem

Que mesmo caindo a valer

Não cansa Deus de perdoar

Como Cristo abriu os braços

Abrem-se as flores no espaço

Imitando O Redentor

A chama da vela queima e se desdobra

Ofuscando com o seu abraço

As contas lacrimosas

Do rosário da chuva

Tocam a terra

Deus sofrendo por quem sofre

Por quem morre, por quem erra

A chuva cai submissa

O vinho se levanta

No cálice sagrado

Contemplo a Hóstia Santa

Nessa missa de finados

Caro luto meu irmão

Existente e necessário

Para ver atrás da campa

Ergue os olhos ao campanário”

João Antonio Heinisch
Enviado por João Antonio Heinisch em 02/03/2017
Reeditado em 12/03/2017
Código do texto: T5928008
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