O Defensor de Jó

Até quando vocês vão me afligir?

Não cansam de vituperar-me?

Contra meus pecados fazem alarme

para mais dor, a mim, infligir!

Embora tenha eu, de fato, errado,

o meu erro fica comigo.

Como te cospe um amigo

quando você é esmurrado?

Vocês se acham muito corretos,

mas nem Deus têm feito justiça!

Pois lançou-me na imundícia

quando andava por caminhos retos.

Mesmo que eu grite: violência!

Sou derrubado pela Onipotência.

Mesmo que eu grite: socorro!

Sou tratado como um cachorro.

Pôs um muro à minha frente,

de modo que não posso passar.

Prendeu-me com uma corrente

às trevas, para me aterrorizar.

Arrancou-me a glória,

arrancou-me a coroa,

arrancou-me a esperança,

arrancou-me tudo!

Ele está furioso comigo

e toma-me como inimigo.

De todos os lados me atacou.

Por que Deus não me matou?

Até os pequeninos me desprezam

E meus amigos íntimos me acusam!

Nem meus servos me respeitam:

sou estrangeiro aos olhos seus.

Deus devorou minha gordura

Fez-me profunda pisadura

Quebrou-me os dentes, entrementes,

vocês me perseguem como Deus!

EU SEI QUE MEU DEFENSOR VIVE

E QUE SOBRE O PÓ SE LEVANTARÁ!

Oxalá essas palavras fossem escritas!

Ah, se numa rocha fossem inscritas!

Ele me defenderá de Deus,

Ele me defenderá de vocês,

Ele me defenderá do mal,

Ele me defenderá de mim.

Então Deus não será mais meu adversário,

porque meu Defensor estará ao meu lado.

Mesmo parando meu coração,

mesmo cessando minha respiração,

mesmo fora da minha carne:

Eu verei a Deus!