sou
SOU o menino simples da estrebaria
Que a Belém subiu no censo primeiro
Onde vaga na estalagem não havia
Para o renegado nazareno de pai carpinteiro
SOU o Maravilhoso Conselheiro
De quem falara o profeta Isaías
SOU Eu, sim, o Homem-Deus oleiro
A quem, no templo, pasmado, ouvias
SOU o primeiro e último
O que semeia a vida e a pode ceifar
SOU o que reanima o pecador abúlico
A voz firme e gentil que acalma o mar
SOU a Rosa de Sarom, o Lírio do Vale
O que, pacientemente, a porta do seu coração bate
O noivo que, ansioso, aguarda sua amada
SOU, dos que me buscam, o maior baluarte
SOU a ressurreição, que o xeol não conteve
A eterna rocha, o Leão de Judá
SOU o profeta que cura os enfermos
Quem da nau da vida no comando está
SOU o caminho, a verdade e a vida
SOU o que fui, sou e serei
O que morto na cruz, ressurgiu em seguida
SOU, dos senhores, o Senhor; dos reis, o Rei
SOU o que, pela senda da morte, conduzia
Um madeiro sobre os ombros pela via do horror
O tão desfigurado filho de Maria
Que, após o Calvário, ao sepulcro baixou
SOU o que carregou a cruz de Barrabás
O que, em Caná, fez a água em vinho
SOU o que, sendo preso, olhou para trás
Quando todos fugiram, deixando-me sozinho
SOU o filho do Deus vivo
A quem clamavas: “Oh, Filho de Davi!”
SOU o Sumo Sacerdote que até hoje sirvo
E, diante do Pai, intercedo por ti
SOU o bom pastor, o Cordeiro de Deus
Que fez cessar o sacrifício no meio da semana
O que, com lodo, fez abrir os olhos teus
A quem, outrora, recebestes com gritos de hosana!
SOU, também, aquele a quem cuspiste o rosto
Cuja turba irada pôs-se a gritar
Depois de injusto pejo sobre meus ombros posto
Em uníssono coro: “crucifica-O, já!”
SOU, por fim, o Verbo Encarnado
A quem, no Gólgota, contemplas com olhar ateu
O Deus-Homem que lavou teu pecado
SOU o salvador que por ti morreu.