O CAMPESINO
Trabalhei duro seu moço, com todo meu vigor e disposição para produzir o mais saboroso vinho com essas uvas e as saúvas me trouxeram desgosto, ao invés de mosto, só pude ver e sofrer a morte inteira de cada videira.
Trabalhei ardentemente e com denodo seu moço, e produzi o mais doce açúcar e a mais saborosa rapadura com essas canas e os sacanas dos nossos políticos só fazem aumentar os impostos, que já são mais altos que todas as castanheiras das florestas brasileiras.
Trabalhei de sol a sol seu moço, plantando as mais fortes árvores frutíferas para fornecer ao mercado e às nossas crianças frutas como essa manga e manga de mim o atravessador com seu miserável, imoral e sem cabimento, baixo pagamento.
Trabalhei duro, sim senhor, seu moço, até ter calos nas mãos, com madeira de primeira para fazer com todo cuidado e esmero esses lindos bancos e os bancos impõem-me os duros juros, mais duros que esta madeira, impedindo-me qualquer lucro desta maneira.
Trabalhar no campo é duro seu moço, muito mato para limpar, muitas sementes para semear, muitos animais para alimentar, ficar parado não dá não, é preciso super ação, superação foi o que passei seu moço, em minha vida a dor me visitou, a solidão chegou, o mundo quase desmoronou.
Trabalho duro sim seu moço, pois tenho cinco filhos para sozinho sustentar, a mais nova vive sonhando acordada em seu mundo de príncipes, princesas e castelos, sonha sempre com ardor, para a dor de ter perdido a mãe passar. Fiquei só, só estou, e assim firme vou.
Trabalho duro sim seu moço, e não perco a esperança, sempre de meus filhinhos vou cuidar, não lhes deixando nada faltar, nem o pão, nem o que vestir e nem o amor de pai, o PAI também cuida de mim, de minha vida devida, sofrida, mas não por Ele esquecida.
EJF ÁZARA