Ira deserta
Conheço certo garoto
que foi levado ao deserto. Ainda prospera.
Imagine-se no deserto.
Imagine sua ira no deserto:
ele queria água, mas não havia!;
queria comida, também não havia!
Ele queria, mas não podia!
Havia um garoto. O conheço quase que parcialmente;
este foi levado ao deserto:
apanhou de viajantes,
foi perseguido por animais,
não conseguia dormir à noite,
durante o dia sentia-se moribundo,
foi mordido vivo por animais,
acometido por doenças,
passou sede, fome e nudez,
chorou de solidão e medo,
sofreu alucinações,
beirou a loucura,
desistiu de tudo,
desejou a morte.
Gritou, chorou, esperneou.
Então murmurou.
Nada adiantou.
Ele, em raiva e chorando,
comeu areia, muita areia
-- começou a colocá-la na boca incessantemente --,
e gemeu, espremeu-se,
pareceu feto.
Sentia-se coitado,
queria carícia.
Nada adiantou.
O Criador e Senhor de todos os desertos
não se sensibiliza com infantilidades.
Ele açoita os que ama.
Cesare Turazzi, em tudo capacitado pelo Senhor