Mãos íntimas

Leia-me, como que às tuas portas:

Tua chaga é aberta,

e ela escarra na boca dos que a olham?

Saímos, todos, do pó

e dele somos feito.

A terra é miserável

pois a terra - que somos nós -

tornou-se lama por amor ao esterco

-- logo, o homem, que pensa ser flor,

é adubo para a putrefação.

Ele, essa besta-fera,

não assiste ao próprio enterro,

mas assiste a mão que odeia (mas jamais afaga)

e apedreja a própria companheira.

Vês, tu, também? O Anjos não viu.

Antes, voou, como abutre,

às suas próprias mãos que o matavam.

Em sua morte, lenta e vivida (não vívida), suicidou-se ainda mais.

As mãos, sim, de todos,

apedrejam ao próximo e a si.

Ninguém é por si, na realidade.

Todos, na verdade, são contra a própria mão

enquanto, sem temor e sem o ódio amoroso,

forem contra o próximo.

Apedreja-te, então!

Pois quando apedrejas a mão que te odeia

o fazes contra ti mesmo ao mesmo tempo.

A salvo estão, porém, os que odeiam em amor,

que amam a Justiça!

Leia-me: a mão que se era para apedrejar,

deve-se perdoar.

Sim, na véspera do escarro

mesmo a perdoa.

Toma, aqui, outro fósforo.

Usufrui da criação,

e perdoa a boca que,

beijando, escarra,

e que, tendo escarrado, arrependeu-se.

Perdoa-lhe o cuspe,

pois toda boca cuspiu e ainda cospe.

Leia-me:

pegas a mão que te apedreja, vil e rançosa,

e, tendo apedrejado-a se assim comandado,

tema e trema,

pois se não fosse pelo Criador e Senhor de todas as mãos,

a tua também apedrejaria todo aquele

que crê e ama a Lei do Altíssimo.

Cesare Turazzi, em tudo capacitado pelo Senhor

Cesare Turazzi
Enviado por Cesare Turazzi em 27/09/2014
Reeditado em 27/09/2014
Código do texto: T4978439
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