PRECE DO GAÚCHO

Inspirada na “Prece do Gaúcho”

de D. Luiz de Nadai.

Em nome do Pai, do Filho,

do Espírito Santo, amém.

Desta terra sem rebem

peço licença especial,

a Ti, Patrão Celestial

para fazer minha prece,

que numa oração se aquece

num chasque tradicional.

Porque, enquanto vou chegando

aí nesta Santa Querência,

o amargo da confidência

eu sevo pacientemente,

e cada gole bem quente

tomado do chimarrão,

é culto da Tradição

estampado em minha mente.

Te confirmo, Velho Santo!

que esta prece de xiru,

é trançada em couro cru

no laço velho dos anos,

que trago sem fazer danos

pois sei que a vida tem fim,

e o dia que chegar pra mim

não quero ter desenganos.

Porque, ao vir à madrugada

e no descambar do sol,

quero mirar o farol

da Sagrada Luz Divina;

a alumiar toda a campina

deste meu pago bendito,

eu não quero que um conflito

atrapalhe minha sina.

Eu preciso me cambiar

até outras invernadas,

e para minhas gauchadas

repontar do céu, a graça

que me traga da tua raça

força mesclada à coragem,

pra ao lado, ter como pajem

pra luta do dia que passa.

Eu bem sei, que qualquer guasca

pilchado, ao passar das horas,

de faca, rebenque, esporas,

tirador, poncho e sovéu,

sempre irá viver ao léu

andarengo e beberrão,

se não unir-se à oração

ditada sem escarcéu.

No rude arreio da vida

eu preciso me firmar,

pois não quero te afrontar

meu velho Patrão Buenacho,

quero esse teu Santo Facho

“Lume”, que o indianismo creu,

e eu precisamos do céu

já que fomos criados guachos.

Escuta Patrão Celeste

esta oração que te faço,

armada do Santo Laço

manejada em devoção,

ao cair do sol pimpão

e ao romper da madrugada,

longe da querência amada

no meio da evolução.

Tomara que todo o mundo

continue assim: como irmão,

ajuda-me bom Patrão

a perdoar a afronta ruim,

venha do jeito que vim

te com ar de xucros potros,

não deixa eu fazer a outros

o que não quero pra mim.

Perdoa-me Senhor, porque

rengueando pelas canhadas,

nas restingas e picadas

da fraqueza que é humana,

da fraqueza que se irmana

nos desviando para o mal,

nos tirando a Catedral

da Religião Soberana.

De quando em vez sem querer

me solto porteira-fora,

tal qual um galo de espora

brigando sem preconceito,

oigalê! Potro sem jeito

caborteiro e corredor,

mas te garanto Senhor

quero ser puro e direito.

Ajuda-me, Virgem Maria!

Primeira prenda do céu,

pois eu sou um guasca mui creu

e te respeito mui alpedo,

socorre-me, bom São Pedro!

Capataz da Estância Gaúcha,

quero a mim lança e garrucha

para eu fazer o meu enredo.

E para fim de conversa

quero te dizer meu Deus,

mas somente pra Ti e os meus

quando num chão sem rebem,

sentir a morte que vem

tua vontade leve a minha,

de cabresto por madrinha,

pra Estância do Céu, amém...

Tapejara Vacariano
Enviado por Tapejara Vacariano em 05/08/2014
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