OLHOS DE PENA E DE PERDÃO
Pai,
Eu vi a garota dos olhos verdes
Em desespero, fugindo da guerra
Amedrontada diante do horror
E exagero de sangue na terra.
Pai,
Eu vi a menina que corria nua
Com o rosto marcado pela dor
Em passos descontrolados na rua
Queimada e com olhar desolador.
Pai,
Eu vi no rosto da jovem a cicatriz
Eternamente marcada pelo marido
Que lhe cortou cabelos, orelhas e nariz
Deformada e com seu direito banido.
Pai,
Eu vi a criança que se ateou fogo
Temendo a imposição de um casamento
Que lhe forjasse as regras do jogo
Horrendo da união em sofrimento.
Pai,
Eu vi o homem com o filho nos braços
Morto, inocente, no tiroteio
A criança que dava os primeiros passos
Assassinada pelo ódio sem freio.
Pai,
Eu vi a mãe abraçar a filha
Evitando-lhe aspirar aquele gás
Perdidas no centro da ilha
Do sol nascente de tempos atrás.
Pai,
Eu vi estampadas as dores
De cada um com sua cruz
E o mundo com seus horrores
Não se lembrando de Jesus.
Pai,
Eu vi Vossos olhos cobertos
De pena e de perdão, entristecidos
Por pregarem de braços abertos
Outra vez Vosso filho... desentendidos!