Cego à carne
Posso ficar cego?
Posso ter meus olhos vazados?
Continuar enxergando,
mas não olhar.
Ver, mas não avistar.
Posso, por favor, ser cego?
São tantas as visões,
são tantas as malditas,
os terrores transparentes
e os deuses curtos,
que eu prefiro estar cego!
Arranca teus olhos,
pois é melhor estar sem eles!
Não, eu não quero
ver tudo preto, nebulado.
Eu quero enxergar, certamente.
Mas eu quero ser cego
para as prostituições ordinárias!
Quero ter meus olhos mortificados,
moribundos perante tantas carcaças.
Quero ter meus olhos
como crianças para as abomináveis,
e adultos para o desvio frontal.
Por favor, torna-me
cego à carne!
Permita-me, por favor, ficar cego:
ter os olhos de uma criança,
e permanecer em graça aos olhos do alto.
Cesare, em tudo capacitado pelo Altíssimo.
[23/11/13]