Gárgula maldita

Gárgula maldita,

que varre o chão com o corpo,

que lixa a lixa com as mãos.

Esta gárgula, que todos têm por maldita,

não sai do caminho;

e tinha de morrer no horário cheio?

Gárgula maldita,

dada à mandinga

e à marmita de fezes.

Esta gárgula, que todos têm por empecilho,

inútil aos olhos e fétida ao nariz,

não tem valor.

É lixo de se ver mesmo.

Gárgula maldita que,

mesmo viva, os abutres

já se achegam, ansiosos pela putrefação.

Ela já está decrépita!

Ela já foi esquecida!

Até pela igreja ela não é vista!

Talvez a paróquia faça algo...

as testemunhas, os sétimos dias,

os dados à mandinga, os terreiros,

os sem verdade, os da explosão que vem do nada,

os hipócritas, os avarentos:

todos estes, sem verdade alguma,

dantes do mundo já reprovados, provavelmente, farão algo.

Mas e a noiva?

Onde está a noiva?

O que ela faz pela gárgula?

Esqueceu-se, pois teve de ir ao salão.

Teve de meditar no novo toque,

na mais nova elitização dos livros cultos.

- Noiva miserável! -

Ai daquele que falar mal da noiva!

Mas ai daquele que não condená-la

em sua visível miséria.

Vamos, exortemos a noiva!

Onde ela está?

Foi comprar pão?

Planejar o casamento que não foi.

- Está dormindo.

Vamos, noiva, acorde!

Gárgula maldita;

acheguei-me por trás dela

e, inevitavelmente, senti seu cheiro.

Eu também a tive por fétida.

E maldita.

Gárgula maldita,

não adentrou na igreja,

por dois motivos:

odiosa, ela odeia a igreja, como todos;

medrosa, ficou amedrontada

com a noiva que, por vezes,

assusta (se vendo como melhor)

todas as gárgulas,

pombas e tantas outras.

Acheguei-me por trás

da gárgula maldita, e logo me afastei.

Não dei nenhuma palavra de esperança

à maldição dela.

Gárgula maldita,

dada à mandinga de todos.

Maldita, dada à mandinga,

tornou-se mendiga:

mendigo.

Cesare Turazzi, em udo capacitado pelo Altíssimo.

[26/10/13]

Cesare Turazzi
Enviado por Cesare Turazzi em 26/10/2013
Reeditado em 26/10/2013
Código do texto: T4542610
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.